Neste curto filme fuma-se e bebe-se muito. Os sorrisos são sintomáticos,
ligeiros e parcos, pontuando por vezes as cenas de paixão. As marcações de cena
são tensas, as frases ditas, entrecortadas por silêncios dramáticos. Os cenários
são verdadeiros cenários, a um passo de se desmoronar. Nada parece real mas tudo
é verdadeiro. Marca indelével do realizador, assim como a sua comédia. Trágica
e inteligente. Elegante.
Henri Boulanger (Jean-Pierre Léaud) é francês em Londres e,
por isso, é mais facilmente despedido. Tenta o suicídio mas não é eficaz.
Contrata alguém. Porém, enquanto o aguarda, enamora-se por uma vendedeira
nocturna de rosas, Margaret (Margi Clarke). E o amor salva-los-á.
Como se Kaurismäki convocasse Bartleby (Melville) e o cruzasse
com Buster (Keaton) e, depois, o entregasse aos movimentos cronométricos de
Bausch (Pina) e às palavras sopesadas de Beckett (Samuel).
Entretanto, ficamos a ouvir «Afro-Cuban Be Bop» de Joe Strummer
and The Astro-Physicians.
jef, janeiro 2018
«Contratei um Assassino» (I Hired a Contract Killer) de Aki
Kaurismäki. Com Jean-Pierre Léaud, Margi Clarke, Kenneth Colley, Angela Wals,
Nicky Tesco, Charles Cork, Michael O’Hagan, Walter Sparrow, Joe Strummer, Serge
Reggeanni. Finlândia / Grã-Bretanha / Alemanha / Suécia, 1990, Cores, 76 min.
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