terça-feira, 17 de abril de 2018

Sobre o filme «Manifesto» de Julian Rosefeldt, 2015















Sofrerá este filme de uma tripla incompatibilidade. Sem hipótese de conciliação.

Por um lado, o modo como vai buscar textos fundamentais que, modernistas, desafiaram a estrutura estética e ética da sociedade, envolvendo-os com uma capa de mavioso colorido burguês com up-grade proletário e digital. O humor poderá ser sempre revolucionário mas neste caso toca o risível.

Em segundo lugar, Cate Blachett é uma diva que merece o tempo, a luz, a sobriedade e o génio de um Woody Allen, não a apressada singeleza lírica e, por vezes, ridícula de Julian Rosefeldt.

Na terceira alínea, os belos cenários e os extravagantes decores em que são situados os monólogos da agitação. Fazem perder o olhar, levitar a imaginação, enlevar essa maravilhosa coisa que é entrar no cinema e esquecermo-nos de nós e do mundo real, passando a ser aquele mesmo e por breves instantes o nosso mundo real. E a música de Ben Lukas Boysen e Nils Frahm, inteligente e sóbria. Um belo celofane que faz esquecer o que é um Manifesto.

E, agora, dentro do meu cérebro como irei compatibilizar o inconciliável? Terei de ir buscar os estetas revolucionários Méliès, Buñuel, Kubrick, Pasolini, Bergman, Antonioni, Tarkovsky, Lynch, Roy Andersson ou Laurie Anderson, para reconciliar o olhar com as sinapses e a minha compreensão cinéfila?

jef, abril 2018

«Manifesto» de Julian Rosefeldt. Com Cate Blanchett, Erika Bauer, Ruby Bustamante. Fotografia: Christoph Krauss. Música: Ben Lukas Boysen e Nils Frahm. Alemanha, 2015, Cores, 95 min.


Sem comentários:

Enviar um comentário