domingo, 29 de abril de 2018

Sobre o filme «Ilha dos Cães» de Wes Anderson, 2018
















Reconhecemos o perfeccionismo estético que o realizador Wes Anderson tem vindo a aprofundar, criando algumas das fábulas visual e musicalmente mais inesquecíveis dos últimos anos («Moonrise Kingdom», 2012 ou «Grand Budapest Hotel», 2014).

Podemos ou não aderir integralmente ao seu estilo minucioso e expressivo, aos decores em perspectiva, quantas vezes em miniaturama. Podemos estranhar os temas sempre a abraçar o afecto social ou a consciência histórico-política, mesmo que a fantasia delirante nos arraste para uma espécie de transe onírico à «Feiticeiro de Oz». Aguardamos o desfile de dezenas e dezenas de actores tocados pela graça juvenil, pela transformação circense, pelo à-vontade e entrega dramática de quem está a representar entre amigos, em frente à câmara de um amigo, Wes Anderson. Guardamos o sorriso benévolo que provoca e a banda sonora que nos leva a uma grande sala para sinfonias operáticas.

Temos tudo isto em «Ilha dos Cães» e muito, muito, muito mais. Por isso, aviso. Tome um café, preste muita atenção a tudo e, talvez, reserve uma boa dose de paciência.

No vago mundo nipónico de Megasaki, um tirano deseja manipular as eleições para, ganhando, expulsar a sobrepopulação canina que ameaça epidemicamente os humanos, atirando os cães para uma distante lixeira onde ficarão ao abandono. Até que um jovem, protegido do tirano, resolve voar até lá para resgatar o seu adorado amigo e protector cão. A partir daí, ou melhor, para chegar ali, o número de peripécias multiplica-se, os flashbacks rodopiam, as personagens ganham asas de cenário para cenário (e que belos alguns deles são!), a democracia vai sendo ameaçada, os oposicionistas aniquilados, a população estudantil mobilizada por uma jovem ocidental, os cães entram em guerra com os congéneres mecânicos, a tradução simultânea sobrepõe-se, a cartografia das ilhas desdobra-se, a sincopada percussão oriental agudiza-se, os despojos venenosos de uma sociedade de desperdício amontoam-se, a luta acelera… Tudo em apenas 101 minutos!

Saí do cinema um tanto cansado com tamanha carga estética, intenção distópica, parafernália de marionetas. Tamanho colorido!

Mas talvez fosse só do sono…

 jef, abril 2018                                                  

«Ilha dos Cães» (Isle of Dogs) de Wes Anderson. Com as vozes de Bryan Cranston, Koyu Rankin, Edward Norton, Bill Murray, Greta Gerwig, Frances McDormand, Scarlett Johansson, Harvey Keitel, Tilda Swinton, Liev Schreiber, Jeff Goldblum, Yoko Ono. Música: Alexandre Desplat. Animação. EUA, 2018, Cores, 101 min.


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