sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Sobre o filme «O Outro Lado da Esperança» de Aki Kaurismäki, 2017
















De Helsínquia, com esperança. Ou seja, De Helsínquia com amor.         
Aki Kaurismäki consegue não se rir. Mesmo quando fala das coisas mais sérias. Qualquer coisa entre Dario Fo e David Lynch. Qualquer coisa entre o político, o estético e o Jacques Tati.
O refugiado sírio Khaled (Sherwan Haji) chega ao porto de Helsínquia escondido num navio de carga e quase é atropelado pelo ex-vendedor de camisas Wilstrom (Sakari Kuosmanen) que acabou de deixar a aliança no cinzeiro da sua mulher, alcoólica. Khaled e Wilstrom, um empregado, outro patrão, acabam irmanados no exílio de um restaurante que, para sobreviver, deve alterar as ementas ao sabor do gosto da clientela. Khaled perdeu a irmã algures nos Balcãs, Wilstrom ganhou uma pipa de massa à mesa de um casino clandestino.
Em «O Outro Lado da Esperança», Kaurismäki coloca os actores quase esfíngicos, ao som de uma série de velhas bandas finlandesas de blues, dentro de cenários muito mais «eslavos» que «escandinavos», deprimidos e cinzentos, sob a égide de Jimmy Hendrix e da solidariedade mais amorosa.
Desde a magnífica cena quase sem palavras em que Wilstrom, de mala na mão, se despede da mulher, até aquela outra cena, quase bíblica, do grupo de skinheads que atacam Khaled e que são rechaçados por um grupo de desgraçados sem-abrigos.
Tudo neste filme está do lado da esperança, é seriamente cómico, é delirantemente sério, é esteticamente estilizado para que o olhar e a consciência do espectador se concentrem no essencial da Arte.
«O Outro Lado da Esperança» é um filme fora de moda e totalmente dentro do nosso tempo. A ser visto com urgência!

jef, novembro 2017

«O Outro Lado da Esperança» (Toivon Tuolla Puolen) de Aki Kaurismäki. Com Sherwan Haji , Sakari  Kuosmanen, Dome Karukoski, Ville Virtanen, Kati Outinen. Finlândia, 2017, Cores, 100 min.

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