terça-feira, 19 de setembro de 2017

Sobre o filme «Una - Negra Sedução» de Benedict Andrews, 2016















O melhor do filme é mesmo o que lhe virá da peça de teatro «Blackbird» de David Harrower. O tempo distendido e cenografia ampla, debruada a vermelho, construída no interior de um angar-armazém de distribuição de correspondência postal.
Dentro deste, numa cápsula envidraçada a servir de cantina, Una (Rooney Mara) confronta Ray (Ben Mendelsohn) pelo trauma que a transtorna há 15 anos. Tinha ela 13 e era seduzida por Ray, (agora Peter após quatro anos a cumprir pena por abuso de menores), um vizinho adulto próximo e consciente do que significava ser seduzido e seduzir.
O filme, construído por flasbacks fortes e luminosos, faz sobressair os dotes dramáticos da jovem actriz Ruby Stokes (Una adolescente) num espaço igualmente distendido pelos arcos musicais de Jed Kurzel, mas que não retira a estranheza da escolha de Rooney Mara para actriz principal. Uma cara juvenil e torturada, embora estática, que bem podia ser a jovem Una década e meia depois, mas onde falta a plasticidade dramática que a história promete e a realidade exigiria. Devia a actriz ter carisma e pulso para persuadir o espectador da tensão que se cumula à sua volta e que explode na festa que Peter havia organizado com a sua mulher Yvonne (Natasha Little).
No interior do climax, Natasha Little é extraordinária nas poucas cenas que lhe concedem – a incompreensão do seu passado oculto e a compreensão de um futuro que em breve terminará, ao observar Una e Peter-Ray a despedirem-se para sempre.
Nas cenas finais, uma espécie de iluminação da arte dramática.

jef, agosto 2017

«Una – Negra Sedução» de Benedict Andrews (Una). Com Rooney Mara, Ben Mendelsohn, Ruby Stokes, David Shields, Riz Ahmed, Ruby Stokes, Tara Fitzgerald, Natasha Little e Tobias Menzies. EUA / Canadá / Grã-Bretanha, 2016, Cores, 94 min.

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