terça-feira, 27 de junho de 2017

Sobre o filme «Glória» de Petar Valchanov e Kristina Grozeva, 2016

















O azar da honestidade.
Dos realizadores búlgaros Petar Valchanov e Kristina Grozeva já conhecíamos «A Lição» (2014) e a gestão da ansiedade psicológica e social feita pelas grandes narrativas cinematográficas. Cenas curtas, montagem célere, câmara a seguir os passos dos protagonistas. Também as mãos, os pulsos, os relógios. O Tempo, ou a sua falta, no cinema destes realizadores tem uma pulsão curiosa e angustiante.
Desse filme anterior conhecíamos já os extraordinários actores Stefan Denolyubov, Margita Gosheva. Aqui ela é Julia Staikova, a acelerada e calculista chefe do departamento de relações públicas do Ministério dos Transportes; ele é Tsanko Petrov, um humilde trabalhador ferroviário, e encontra uma enorme quantia de dinheiro na linha  que vigia diariamente. Tsanko Petrov entrega o dinheiro às autoridades e recebe um prémio por isso. Julia Staikova tem a oportunidade de melhorar a imagem do ministro e organiza a cerimónia…
…mas, pelo meio, um relógio é perdido e o Tempo desorganiza-se.
Os caminhos divergentes das duas personagens convergem, ou melhor, colidem. As circunstâncias e as condições tornam-se desfavoráveis para Tsanko e Julia. Contudo, em sentido diverso. A sociedade não ajuda, não deita água na fervura. Bem pelo contrário.

«Glória» pode ser visto como uma tragédia, um melodrama. Mas ao colocar uma carga tão forte de caricatura sobre todas as personagens, poderá ser olhado, igualmente, como uma alta comédia, negra e triste, de uma sociedade que é feita mais pela imagem do que pela honestidade.

E, pelo meio, não podemos esquecer o azar!

jef, junho 2017

«Glória» (Slava) de Petar Valchanov e Kristina Grozeva. Com Stefan Denolyubov, Margita Gosheva, Ana Bratoeva. Grécia / Bulgária, 2016, Cores, 101 min.

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