terça-feira, 9 de maio de 2017

Sobre o nº 1 da revista «A Morte do Artista», Maio 2017



















Falar sobre a realização de um projecto não é difícil.
Um projecto deve partir de uma animada conversa de café, unindo esforços e diversão, promovendo algum planeamento e rigor, tentando a simplicidade já que a complexidade, todos sabemos, vem depois. Sempre.
A revista «A Morte do Artista» no seu nº 1 não foi nada difícil de concretizar. Bastou juntar a vontade de a publicar de um grupo de amigos, amigos, cuja intuição é tão abstracta quanto pragmática. Carina Bernardo, Fernanda Cunha, Firmino Bernardo, Manuel Halpern, Paulo Romão Brás e o escriturário que em baixo assina.

A primeira impressão é a da imagem, do toque. No primeiro instante, só os sentidos começam a ler… 
Formato não muito comum, quase quadrado, 21 x 22 cm, 58 páginas, design forte, imagem de um vigor indiscutível. A obra é do Paulo Romão Brás que lhe impõe o espelho de um passado que chega ao futuro para lhe resgatar a memória e acusá-lo, pouco depois, de a esquecer. Parábolas densas, Dark Parables. A esse mundo estranho da fotografia-pintura junta-se um outro artista, André Ruivo, que traz os seus saltimbancos malacuecos, traço negro e incisivo, dir-se-ia circense. Nunca sabem se pretendem saltar para dentro da arena festiva ou para o interior dos seus corações magoados.
Salta igualmente, no início, a fotografia (cuja autoria não foi identificada) de um escritor único que decidimos premiar nesta edição. Uma decisão lógica porque as suas letras estão presentes nas constantes discussões do café acima referido. Mário de Carvalho. Escritor asinho e inovador, de quem jamais qualquer criatura com dois dedos de caco afirmará: «O gajo anda sempre a escrever o mesmo livro!». Basta analisar a imagem para entender o espírito do criador e ficar com água na boca sobre o texto inédito, magnífico, aqui publicado, que o autor escreveu sobre o tema.
(Agora, já as letras nos cativam, caracteres de bom tamanho e boa figura, espaço interlinear agradável, leitura confortável.)

No final, Natália Constâncio, desde há tantos anos investigadora da obra, apresenta um circunstancial artigo sobre ironia e paródia no contexto do rigor estético de Mário de Carvalho. Mas há mais.
Carlos Bessa impõe a sua poesia que rejeita a poesia e o lado moribundo que, quantas vezes, as palavras impõem ao criador.
Temos uma paródia sobre quem pretendeu a coroa de glória como domador de leões, o famoso ‘Joe Sans Peur’. História entre a comédia negra e a fantasia delirante, de Pedro Castro Henriques.
E um texto sintáctico sobre a estranha morfologia da língua das gentes de Miranda. Que raio de verbos reflexivos usam eles… e com que ganas… e que belo é o tom suave mas sonoro daqueles sons… Alfredo Cameirão.
E, ainda, mais alguns textos desses que um dia se chamaram «A Morte do Artista» por fazerem propaganda aos próprios livros.
Pelo fim, lá aparecem capas e preços, os livros dos presunçosos!

Abraço grande e até dia 13 de Maio de 2017, pelas 16h30, na Biblioteca Camões, Largo do Calhariz ao Chiado, em Lisboa. Daremos o prémio com a presença do escritor. Lançaremos e a revista e o convívio à paisagem do Tejo. Estaremos felizes pela realização desta revista.

jef, maio 2017

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