quarta-feira, 24 de maio de 2017

Sobre o filme «A Senhora Oyu» de Kenji Mizoguchi 1951



















«A Senhora Oyu» é de uma raridade absoluta.
Um filme absolutamente belo e absolutamente triste sobre um triângulo amoroso onde apenas o amor, o amor mais puro, existencial, espiritual, essencial, vai ficando sublinhado na alma e nos olhos de quem o contempla. Este é um filme para ser contemplado!
Se existe definição para o Amor, ela está aqui contida e absorve a sua totalidade.
Aos poucos, entre as novas folhas de três primaveras, o espectador vai ficando entre o perfeito balanço da estética e da ética, fórmula de certo modo inconsciente que brota das obras de Mizoguchi. Mas em «A Senhora Oyu», esse espectador perde a noção do espaço e do tempo. Entra num estado perfeito e imponderado que tantas vezes acontece na Ópera. Não interessa a época, não interessa o local, pouco importa os planos longos e aparentemente sem história. Aqui, cada plano é toda a história, o seu fim e o seu início. Narrativa perfeita em interligação. O espectador entra, sem rede, portanto, numa fábula cuja graciosidade trágica é sustentada pelo som dos recitais ou pelo piar das corujas ou o coaxar das rãs. Tudo pertence à dádiva. Tudo pertence ao mundo do obséquio e da cerimónia. Da fronteira que desejamos que os outros nos atravessem, mas que os outros, por humanidade, não se permitem atravessar.
Repito. Quem perder «A Senhora Oyu» fica sem saber a definição de Amor, Amizade, Partilha, Estética, Ética, Ópera, Beleza, Mundo.

jef, maio 2017

«A Senhora Oyu» (Oyu-Sama) de Kenji Mizoguchi. Com Kinuyo Tanaka, Nobuko Otowa, Yuji Hori, Kiyoto Hirai, Reiko Kongo, Eijirô Yanagi, Eitarô Shindô, Kanae Kobayashi. Argumento:Yoshikata Yoda. Música: Fumio Hayasaka; Música Nô: Shogin Hagiwara. Japão, 1951, Cores, 95 min.

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