«A
Senhora Oyu» é de uma raridade absoluta.
Um
filme absolutamente belo e absolutamente triste sobre um triângulo amoroso onde
apenas o amor, o amor mais puro, existencial, espiritual, essencial, vai ficando
sublinhado na alma e nos olhos de quem o contempla. Este
é um filme para ser contemplado!
Se
existe definição para o Amor, ela está aqui contida e absorve a sua totalidade.
Aos
poucos, entre as novas folhas de três primaveras, o espectador vai ficando
entre o perfeito balanço da estética e da ética, fórmula de certo modo inconsciente
que brota das obras de Mizoguchi. Mas em «A Senhora Oyu», esse espectador perde a
noção do espaço e do tempo. Entra num estado perfeito e imponderado que
tantas vezes acontece na Ópera. Não interessa a época, não interessa o local, pouco
importa os planos longos e aparentemente sem história. Aqui, cada plano é toda
a história, o seu fim e o seu início. Narrativa perfeita em interligação. O espectador entra,
sem rede, portanto, numa fábula cuja graciosidade trágica é sustentada pelo som
dos recitais ou pelo piar das corujas ou o coaxar das rãs. Tudo pertence à
dádiva. Tudo pertence ao mundo do obséquio e da cerimónia. Da fronteira que
desejamos que os outros nos atravessem, mas que os outros, por humanidade, não se
permitem atravessar.
Repito.
Quem perder «A Senhora Oyu» fica sem saber a definição de Amor, Amizade, Partilha,
Estética, Ética, Ópera, Beleza, Mundo.
jef,
maio 2017
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