quinta-feira, 27 de abril de 2017

Sobre o filme «A Criada» de Park Chan-Wook, 2016















O mais interessante deste filme está patente no magnífico cartaz.
A imagem de uma tramóia rocambolesca passada nos anos 30, durante a ocupação da Coreia pelo Japão. Imagens orientais fortes recortadas sobre a luz do luar enevoado ou das lanternas sombrias. Construídas ao gosto ocidental deslumbrado pelo traço japonês como sucedia no início do século passado. Belos fatos, belas luvas, soalhos, jardins de pedras e lagos interiores que escondem caves de acesso interdito e prazeres inatos.
Quem trama quem? Quem fala verdade? Quem seduz?
Uma intriga com gangsters sádicos mas silenciosos e mulheres poderosas, ardilosas, perspicazes e sedentas. Um triller executado sobre um intricado enredo em jeito de super-heroínas que derrotam tios manhosos e larápios sedutores. Cores poderosas, linhas firmes sobre a célebre arte erótica oriental coleccionada numa biblioteca para leitora ensaiada e ouvintes excitados.
Mas o mais interessante do filme é, principalmente, a imagem de comédia lúbrica, técnica homo-erótica e sadismo aristocrático, meio Arsène Lupin displicente meio Mandrake galã, que nunca desaparece e até se intensifica nas penúltimas cenas. Enquanto se inalam cigarros embebidos em mercúrio e os dedos são guilhotinados, o torturado sorrindo para o torturador comenta: «Ao menos morro com o sexo ileso.»

jef, abril 2017

«A Criada» (The Handmaiden) de Park Chan-Wook. Com Min-hee Kim, Kim Tae-Ri, Jung-woo Ha, Jin-woong Jo, Hae-suk Kim. Coreia do Sul, Cores, 144 min.

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