segunda-feira, 3 de abril de 2017

Sobre o disco «A Day for the Hunter, a Day for the Prey» de Leyla McCalla. Jazz Village / Harmonia Mundi, 2016






















Saia da sua zona de conforto e entre na sua zona de conforto mas de modo muito mais consciente. Este é um disco importante.

«Um dia para o opressor, outro para o oprimido» escolhe a violoncelista Leyla McCalla como tema para definir essa coisa estranha que é a vida. Ela que vem do Haiti para abraçar todos os ritmos do Louisiana, de New Orleans, e reconhecer quanta força a transumância obrigatória e repressora da escravatura veio transmitir à música universal. Leyla McCalla declara através do provérbio haitiano esse modo eterno de «resistência- subterfúgio» usado pelos povos para poderem chegar até ao futuro.

Mas Leyla McCalla faz mais. Com a sua voz de vibrato suave e afinado, terno e assertivo, impõe ao modo popular, à folk e à country, aos blues e à balada, uma beleza quase erudita e cerimoniosa, reverente e provocadora. Francês, inglês e crioulo do Haiti, temas brutos e amoráveis, ajudados pela mestria de Rhiannon Giddens, Louis Michot, Marc Ribot, Sarah Quintana, ou dos Lost Bayou Ramblers,. Tudo soa à acústica do Sul das margens quentes e húmidas do Mississipi e dessa maravilhosa e afectuosa mistura de cores de pele.

Será que uma canção de embalar pode acordar o espírito ou estar a um passo de uma marcha fúnebre? Quem oiça «A Day for the Hunter, a Day for the Prey» de Leyla McCalla que o diga.

Para mim um dos provérbios para jamais esquecer.
Um dos álbuns de 2016.

jef, abril 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário