Dizem que a felicidade é um caso momentâneo, desaparece da
rede quando menos se espera, surge da difícil conjugação de átomos
circunstanciais. Dizem.
Por isso, da felicidade, acrescentam, ser um caso metamórfico.
Metafísico.
Diria eu ser um caso sério.
Um caso que se constrói com o corpo. Nada para além dele,
tudo por ele.
Assim, porque é caso factual, a felicidade, a frase, a ideia,
o beijo.
Depois, o facto eleva-se, o que resta do corpo, o que foi
construído por ele, a imagem, a casa, a leitura, essa pele que se veste por
dentro, transforma-se, metamorfiza-se, metafísica-se. Conclui-se, parece
escapar. Deseja transmitir-se ao outro. Corpo após o corpo, ou seja, corpo com
corpo. A felicidade.
Já não é corpo, também não é memória, não possui sequer
passado, coisa que não tem existência para além do corpo que agora se toca. Nem
aquilo que se antecipa, que viria a ser corpo mas ainda não o é. O futuro.
Só o corpo existe, cultura de células, ideias, casas,
imagens, beijos, leituras.
O corpo, essa cultura de factos circunstanciais, de casos
metamórficos. Metafísicos.
Só a felicidade existe como extensão do corpo. Se calhar nem
este existe. As bactérias gostam dele ao ponto de o fazerem desaparecer.
As ideias levam-nas o vento.
As imagens levam-nas a luz quando o Sol se esconde.
As casas continuarão mas apenas se forem desejadas,
habitadas. Os beijos porventura ficarão nos lábios alheios, e as leituras,
apenas se o papel impresso não for deixado à chuva, ao vento, se o fogo não o consumir,
se não ficar debaixo dos escombros, das guerras, exposto aos dias durante o
Verão.
Repito:
Por agora, só a felicidade existe como extensão da palavra
que, para alguns, significa «corpo».
jef, abril 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário