A arte do desconchavo.
Se alguma vez desse uma aula sobre cinema buscaria «Stefan Zweig»
de Maria Schrader. Ali está tudo sobre como não contar, não emocionar, não
esclarecer.
Afinal, estamos em Buenos Aires, Setembro de 1936, no XIV
Congresso do PEN Club, cheio de fumo de charuto, corridinhas entre portas e
entrevistas apressadas, ou em Petrópolis, Fevereiro de 1942, a olhar os dois cadáveres,
em plano longo, lento, enfadado, pela consabida técnica do espelho do
guarda-fatos? Ou terá sido ao contrário?
Afinal, que Brasil era o de Getúlio Vargas? Como aceitou os
livros «Amok» 1922, «Confusão de Sentimentos» 1927, «Brasil, País do Futuro»
1941, «O Mundo de Ontem» 1942? E a derradeira «Novela de Xadrez»?
Quem era afinal Stefan Zweig, o judeu austríaco tão famoso?
Aborrecia-se com as cartas dos refugiados que lhe pediam ajuda? Quantas filhas
tinha? E quantas mulheres? E o referido Congresso Nuremberga, qual a sua opinião?
E a guerra e as ditaduras e a cultura? Onde ficamos?
Bem, pelo menos fico a saber que Stefan Zweig gostava de
cachorros e a sua esposa Lotte gostava de cana-de-açúcar, e que ambos
apreciavam charangas ridículas em chácaras deprimidas…
Fico triste. Stefan Zweig é um escritor de belas novelas,
rigoroso e sensível, cuja cultura vastíssima invadiu o planeta Terra, planeta
que, depois, o votou ao esquecimento. Um escritor que está no meu coração.
Maria Schrader devia ter pensado duas vezes antes de ter
realizado este filme que, diga-se com justiça, deu trabalho a um milhar de
actores portugueses e até ressuscitou Nicolau Breyner.
E eu devia ter pensado três vezes antes de o ir ver…
jef, março de 2017
«Stefan Zweig - Adeus, Europa» de Maria Schrader (Vor der / Stefan
Zweig: Farewell to Europe). Tómas Lemarquis, Barbara Sukowa, Josef Hader, Jan
Schomburg. Alemanha / França /Áustria, 2016, Cores, 106 min.
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