segunda-feira, 20 de março de 2017

Sobre o disco «Desassossego» de Caio, edição Miguel Gomes (Chinaskee), 2016.















































Existe ao longo das sete faixas de «Desassossego» a inevitável, melhor talvez, inabalável vontade de levar a bom porto uma ideia certa, melhor talvez, a um porto qualquer, aos ouvidos de quem a queira escutar. Esse percurso provoca, ou melhor, prova que a concretização de um álbum é muito mais do que realizar um sonho. É dar azo a uma linguagem que Caio necessita instalar no centro do exigível diálogo. «Quem não luta vai sofrer!»

As baladas e a guitarra acústica, as suaves melodias por vezes condensadas por palavras sussurradas e indistintas, a linha da percussão simples, a ainda mais simples guitarra eléctrica, os samples da voz humana ou dos pássaros, discretíssimos. Por vezes, o mais simples está no interior da alma mais complexa. Caio sabe isso.

E quem não desafinou, ou ainda melhor, quem não usou a desafinação como estratégia de beleza, de equilíbrio instável, de vontade irreprimível, que atire a pedra da dúvida. João Gilberto, Neil Young, Chet Baker, desafinaram. Panda Bear, Devendra Banhart, Tiago Bettencourt, B Fachada desafinaram. David Byrne, Brian Eno, R.E.M. ou Beck, também. (Bem... Talvez a Frank Sinatra não lhe tenha acontecido...)

Para nosso encanto, Caio tem o direito, ou melhor, o dever de desafinar.

João Santos teve o dever de produzir, misturar e masterizar «Desassossego». 
É ele Caio.

jef, março 2017

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