Existe ao longo das sete faixas de «Desassossego» a
inevitável, melhor talvez, inabalável vontade de levar a bom porto uma ideia
certa, melhor talvez, a um porto qualquer, aos ouvidos de quem a queira
escutar. Esse percurso provoca, ou melhor, prova que a concretização de um
álbum é muito mais do que realizar um sonho. É dar azo a uma linguagem que Caio
necessita instalar no centro do exigível diálogo. «Quem não luta vai sofrer!»
As baladas e a guitarra acústica, as suaves melodias por
vezes condensadas por palavras sussurradas e indistintas, a linha da
percussão simples, a ainda mais simples guitarra eléctrica, os samples da voz
humana ou dos pássaros, discretíssimos. Por vezes, o mais simples está no
interior da alma mais complexa. Caio sabe isso.
E quem não desafinou, ou ainda melhor, quem não usou a desafinação
como estratégia de beleza, de equilíbrio instável, de vontade irreprimível, que
atire a pedra da dúvida. João Gilberto, Neil Young, Chet Baker, desafinaram.
Panda Bear, Devendra Banhart,
Tiago Bettencourt, B Fachada desafinaram. David Byrne, Brian Eno, R.E.M. ou
Beck, também. (Bem... Talvez a Frank Sinatra não lhe tenha acontecido...)
Para nosso encanto, Caio tem o direito, ou melhor, o dever de
desafinar.
João Santos teve o dever de produzir, misturar e masterizar
«Desassossego».
É ele Caio.
É ele Caio.
jef, março 2017
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