quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Sobre o filme «Manchester by the Sea» de Kenneth Lonergan, 2016


















A metáfora do gelo.
A neve que cai sobre o porto e o mar de Manchester-by-the-Sea, Massachussetts USA, é muito poético. O frio respira sobre as gaivotas e sobre o drama de Kenneth Lonergan. Tolhe os movimentos, amplia o sofrimento. Anuncia a tragédia de Lee Chandler (Casey Affleck), tragédia essa anunciada pelo fogo nocturno. A estética do gelo a cobrir a composição de um homem desesperado, de uma família amputada. Um cadáver por enterrar devido ao solo impenetrável, um treino de hockey no gelo que termina em agressão, a entrada dos prédios obstruída pela neve. A catarse quase anti-climax, quase humorística, de Patrick (Lucas Hedges) quando descobre o congelador a transbordar de hirtas pernas de frango.

Mas não haverá no filme um quanto exagero de figuras de estilo?
Tanto gelo, tantas lutas no mesmo bar, tantas portas de carro a fechar, tanto olhar interior e estático de Casey Affleck que acaba por entregar toda a composição dramática a Lucas Hedges, o verdadeiro herói do filme.

Tanto adagio de Albinoni e Massenet, tanta perfeição de Haendel…

Tanto flashback que, no início, confunde a progressão da história…

E porquê tão pouca Michelle Williams?

Um filme bonito e terno que, no entanto, faz suspirar pelos melodramas simples e fulcrais de Douglas Sirk, John Huston, Elia Kazan, Nicholas Ray, Otto Preminger, Clint Eastwood… «Nebraska» de Alexandre Payne (2013), «Paris Texas» de Wim Wenders (1984), «Uma História Simples» de David Lynch (1999)…

jef, fevereiro 2017

«Manchester by the Sea» de Kenneth Lonergan. Com Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler, Lucas Hedges, Gretchen Mol. EUA, 2016, Cores, 137 min.

1 comentário:

  1. Concordo contigo, João. E olha que não é por ser um filme "parado". Adoro "Nebraska", por exemplo.
    E, realmente, é muito Casey e muito pouca Michelle.

    ResponderEliminar