No princípio era o verbo.
Se o evangelista João tem razão, essa razão vem da palavra dita, ouvida,
dialogada. Pois antes, muito antes de Cristo e da palavra como dogma, está a
palavra como ritual, como máscara, como reinterpretação. A palavra e o teatro
nascem com a humanidade. Fazer teatro não é mentir, é compreender. Luigi
Pirandello, Peter Handke, Manuel Halpern, escreveram teatro sobre teatro, a
palavra sobre a palavra. Também Firmino Bernardo e Suzana Branco rescrevem a
tragédia «As Bacantes» de Eurípedes, estreada em 406 a .C., para entender um
grupo de teatro amador em conflito com um encenador de haute culture: «Nunca
tentaste compreender-nos». «E vocês, já tentaram compreender o que significa
fazer teatro?». «Esqueçam-se de vocês e lembrem-se do espectáculo», põe ordem, finalmente,
o Taberneiro, investido como «deus ex machina», coro, actor e encenador. A voz
que, com humor e razão, vem salvar a cabeça de Penteu, a cegueira de Agave, o
futuro da palavra, a realidade do disfarce, a alegria do público. No princípio
é, na verdade, o Teatro. E o teatro lido tem um sabor muito especial. Palavra!
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