sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Sobre a peça de teatro «As Grandes Dionísias» de Firmino Bernardo & Suzana Branco, Apenas Livros, 2013


No princípio era o verbo. Se o evangelista João tem razão, essa razão vem da palavra dita, ouvida, dialogada. Pois antes, muito antes de Cristo e da palavra como dogma, está a palavra como ritual, como máscara, como reinterpretação. A palavra e o teatro nascem com a humanidade. Fazer teatro não é mentir, é compreender. Luigi Pirandello, Peter Handke, Manuel Halpern, escreveram teatro sobre teatro, a palavra sobre a palavra. Também Firmino Bernardo e Suzana Branco rescrevem a tragédia «As Bacantes» de Eurípedes, estreada em 406 a.C., para entender um grupo de teatro amador em conflito com um encenador de haute culture: «Nunca tentaste compreender-nos». «E vocês, já tentaram compreender o que significa fazer teatro?». «Esqueçam-se de vocês e lembrem-se do espectáculo», põe ordem, finalmente, o Taberneiro, investido como «deus ex machina», coro, actor e encenador. A voz que, com humor e razão, vem salvar a cabeça de Penteu, a cegueira de Agave, o futuro da palavra, a realidade do disfarce, a alegria do público. No princípio é, na verdade, o Teatro. E o teatro lido tem um sabor muito especial. Palavra!

jef, julho 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário