A Fundação Calouste Gulbenkian é um grande-pequeno espaço que
sempre teve o condão de influenciar e descentrar os pequenos-grandes espaços
que são Lisboa e Portugal.
Não falamos das bibliotecas itinerantes que percorriam o país
distribuindo leitura em carrinhas de difícil esquecimento.
Não referimos a sessão do filme «Roma, Cidade Aberta» que Roberto
Rossellini apresentou no Grande Auditório, em 1973, levando João Bènard da
Costa a descrevê-la, após os longos minutos de ovação em pé do público e entre
Vivas à Liberdade!, como «a mais inesquecível sessão de cinema da minha vida».
Nem a apresentação de «Café Müller» ou «A Sagração da
Primavera» da bailarina Pina Bausch, um pouco mais tarde…
Nem a estreia a 7 de Junho de 1969 de «La Transfiguration de
Notre Seigneur Jésus-Christ», a oratória maior que Olivier Messiaen escreveu a
pedido de Maria Madalena de Azeredo-Perdigão, comemorando o aniversário da morte
do fundador.
Aqui, somente se fala das aves do Jardim Gulbenkian que, à
época, talvez tivessem sido ouvidas por Messiaen, músico e também ornitólogo, que
compôs igualmente os sete livros do seu «Catalogue d'Oiseaux», «Réveil des
Oiseaux» e «Oiseaux Exotiques».
Aves que, no seu estatuto estético, desenvolvem as
características humanas, urbanas, morais, dos habitantes de uma cidade. Tomam esta
por sua vez como seu ecossistema, naturalizando o homem e, em simultâneo,
humanizando-se.
De acordo com esta perspectiva, «As Aves do Jardim
Gulbenkian» de João Eduardo Rabaça é um guia sereno, fácil de consultar, que
ajuda a explorar mas nunca explicando. Lança a curiosidade para estarmos
alerta, vivos perante o jardim e as suas (nossas) transformações. Nariz no ar, olhos
atentos, ouvidos em riste. Primavera, Verão, Outono e Inverno, como dizia Vivaldi.
Nada mais simples do que o ciclo de uma cidade.
Dividido essencialmente em duas partes: uma caracterização
geral e enquadramento do espaço e do tempo na primeira parte e, na segunda, um
guia de apresentação específico ilustrado por textos sensíveis e pelas
fotografias de Diogo Oliveira e Luís Gomes.
Um guia amável para compreendermos que o homem, os seus
jardins e cidades, as aves e os seus habitats e ninhos, fazem parte da mesma
Natureza.
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