quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Sobre o livro «As Aves do Jardim Gulbenkian» de João Eduardo Rabaça, Fundação Calouste Gulbenkian 2016


















A Fundação Calouste Gulbenkian é um grande-pequeno espaço que sempre teve o condão de influenciar e descentrar os pequenos-grandes espaços que são Lisboa e Portugal.
Não falamos das bibliotecas itinerantes que percorriam o país distribuindo leitura em carrinhas de difícil esquecimento.
Não referimos a sessão do filme «Roma, Cidade Aberta» que Roberto Rossellini apresentou no Grande Auditório, em 1973, levando João Bènard da Costa a descrevê-la, após os longos minutos de ovação em pé do público e entre Vivas à Liberdade!, como «a mais inesquecível sessão de cinema da minha vida».
Nem a apresentação de «Café Müller» ou «A Sagração da Primavera» da bailarina Pina Bausch, um pouco mais tarde…
Nem a estreia a 7 de Junho de 1969 de «La Transfiguration de Notre Seigneur Jésus-Christ», a oratória maior que Olivier Messiaen escreveu a pedido de Maria Madalena de Azeredo-Perdigão, comemorando o aniversário da morte do fundador.

Aqui, somente se fala das aves do Jardim Gulbenkian que, à época, talvez tivessem sido ouvidas por Messiaen, músico e também ornitólogo, que compôs igualmente os sete livros do seu «Catalogue d'Oiseaux», «Réveil des Oiseaux» e «Oiseaux Exotiques».
Aves que, no seu estatuto estético, desenvolvem as características humanas, urbanas, morais, dos habitantes de uma cidade. Tomam esta por sua vez como seu ecossistema, naturalizando o homem e, em simultâneo, humanizando-se.

De acordo com esta perspectiva, «As Aves do Jardim Gulbenkian» de João Eduardo Rabaça é um guia sereno, fácil de consultar, que ajuda a explorar mas nunca explicando. Lança a curiosidade para estarmos alerta, vivos perante o jardim e as suas (nossas) transformações. Nariz no ar, olhos atentos, ouvidos em riste. Primavera, Verão, Outono e Inverno, como dizia Vivaldi. Nada mais simples do que o ciclo de uma cidade.
Dividido essencialmente em duas partes: uma caracterização geral e enquadramento do espaço e do tempo na primeira parte e, na segunda, um guia de apresentação específico ilustrado por textos sensíveis e pelas fotografias de Diogo Oliveira e Luís Gomes.

Um guia amável para compreendermos que o homem, os seus jardins e cidades, as aves e os seus habitats e ninhos, fazem parte da mesma Natureza.

jef, janeiro 2017

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