Visitar a memória construída de novo.
Há filmes assim, que parecem simples, comuns,
invariáveis. Filmes que filmam aquilo que julgamos já conhecido. Exactamente
como quando revisitamos certos locais, certas cidades, certos amigos. Nós
gostamos, sentimo-nos em casa. Certamente já serão (estarão) diferentes, mas
nós sentimo-los invariáveis, comuns, simples. Sentimo-nos reconfortados, como se
nos pertencessem. (E pertencem.) Pertencem a uma América de estradas sem fim e
que reconstruímos continuamente em nosso benefício. Aí revisitamos alguma coisa
que nós somos e que a nossa memória guardou (alterou) mas talvez tivéssemos
esquecido. «Nebraska», lembra o álbum de Bruce Springsteen (1982), lembra
também «Uma História Simples» de David Lynch (1999). Lembra uma América que faz
parte de nós e que Frank Capra (1897-1991) ajudou a edificar. Forte, impulsiva,
agreste, ampla, mas, ao mesmo tempo, generosa, bela (muito bela), atenta (muito
atenta). Há filmes, assim, para serem contemplados, para serem ouvidos, para serem
devolvidos à memória revisitada (para sempre).
jef fevereiro 2014
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