terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sobre o filme «Jovem e Bela» de François Ozon, 2013


















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No último ano, o cinema francês tem dedicado alguma da sua melhor arte a explicar-nos como será o corpo humano o lugar mais estranho, e mais sugestivo, para habitar. Quem não o possua que o negue, que evite o início, o fim da infância, a adolescência, a aventura do futuro. O sexo. Assim o demonstrou Abdellatif Kechiche em «A Vida de Adèle: Capítulos 1 e 2» ou Alain Guiraudie em «O Desconhecido do Lago». Em defesa dos anteriores, François Ozon coloca a imagem de uma normalidade, diria realidade familiar, sobre o que nada tem de normal na viagem experimental de um corpo. É precisamente esse encontro do afecto, em cada uma das estâncias da viagem iniciática, que torna a beleza deste filme um estado maior. As lágrimas, os silêncios, o incómodo, o confronto com o amor da família, a verbalização, transformarão a descoberta em afinidade ou afastamento definitivo, dará ao crescimento a consciência do adulto, mas retirar-lhe-á, para sempre, a alegria da aventura. A necessária revisitação de um quarto ou de um corpo confirma apenas o que já é passado, e apresenta a ingrata e infinita seriedade do presente. “On n'est pas sérieux, quand on a dix-sept ans”, assim é citado «Roman» de Arthur Rimbaud. Assim o cantou Léo Ferré.

jef, abril 2014


«Jovem e Bela» (Jeune et Jolie) de François Ozon. Com Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot, Fantin Ravat, Johan Leysen, Charlotte Rampling, Nathalie Richard. França, 2013, Cores, 95 min.

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