sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Sobre o disco «Já é» de Arnaldo Antunes, Rosa Celeste / Sony 2016












Arnaldo Antunes é um ser estranho!
Está entre Manoel de Barros e Manuel António Pina.
Entre a criança e a poesia.
Entre a rã e o rock.
Entre Luiza Neto Jorge e Ana Hatherly.
Entre a poesia gráfica, a tinta e o cartaz.
Entre a solidão e o solidó.
Confere a palavra pela ideia que aquela não tem.
Faz reverência e risse dela.
Como Gonçalo M. Tavares.
Está entre Carlinhos Brown e Marisa Monte.
Canta no naipe baixo, baixíssimo, subterrâneo, modelar, afinadíssimo.
É tribalista, modernista e está na bossa nova.
Brinca no samba.
Gosta da atmosfera, das nuvens e dos rios
Apenas porque contêm água.
«Já é» está entre o reggae e a guitarrada eléctrica.
Está entre a alegria e a tristeza que o amor contém.
«Já é» está, naturalmente, entre Manuela Azevedo e Márcia Xavier.
Está entre qualquer coisa que lembra o Verão
que ora está no Rio, ora em Lisboa.
Arnaldo Antunes goza com as palavras que constrói
mas sente-as.
Arnaldo Antunes gosta de plantas e da ventania que nelas dança
como eu.

jef, janeiro 2017

Dança (Arnaldo Antunes / Marisa Monte)
ela dança
quando bate o vento ela samba
samambaia folha de palmeira
muitas outras como ela dançam ao redor

galhos bons para subir criança
mangas penduradas nas mangueiras
brincos de princesa, cabeleiras
num emaranhado de cipós

vem vindo o vendaval
temporal
ventania
depois a luz do sol
céu azul
calmaria

mas a natureza não se cansa
nunca perde o passo dessa dança
sobre a minha rede que balança
vejo o pé de jaca se abraçar no flamboyant

eu queria ser como uma planta
eu queria ter a vida mansa
e me libertar de toda ânsia
me cobrir de orvalho de manhã

vem vindo o vendaval
temporal
ventania

depois a luz do sol
céu azul
calmaria

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