Arnaldo Antunes é um ser estranho!
Está entre Manoel de Barros e Manuel António Pina.
Entre a criança e a poesia.
Entre a rã e o rock.
Entre Luiza Neto Jorge e Ana Hatherly.
Entre a poesia gráfica, a tinta e o cartaz.
Entre a solidão e o solidó.
Confere a palavra pela ideia que aquela não tem.
Faz reverência e risse dela.
Como Gonçalo M. Tavares.
Está entre Carlinhos Brown e Marisa Monte.
Canta no naipe baixo, baixíssimo, subterrâneo, modelar,
afinadíssimo.
É tribalista, modernista e está na bossa nova.
Brinca no samba.
Gosta da atmosfera, das nuvens e dos rios
Apenas porque contêm água.
«Já é» está entre o reggae e a guitarrada eléctrica.
Está entre a alegria e a tristeza que o amor contém.
«Já é» está, naturalmente, entre Manuela Azevedo e Márcia
Xavier.
Está entre qualquer coisa que lembra o Verão
que ora está no Rio, ora em Lisboa.
Arnaldo Antunes goza com as palavras que constrói
mas sente-as.
Arnaldo Antunes gosta de plantas e da ventania que nelas
dança
como eu.
jef, janeiro 2017
Dança (Arnaldo Antunes
/ Marisa Monte)
ela dança
quando bate o vento ela samba
samambaia folha de palmeira
muitas outras como ela dançam
ao redor
galhos bons para subir
criança
mangas penduradas nas
mangueiras
brincos de princesa,
cabeleiras
num emaranhado de cipós
vem vindo o vendaval
temporal
ventania
depois a luz do sol
céu azul
calmaria
mas a natureza não se cansa
nunca perde o passo dessa
dança
sobre a minha rede que
balança
vejo o pé de jaca se abraçar
no flamboyant
eu queria ser como uma planta
eu queria ter a vida mansa
e me libertar de toda ânsia
me cobrir de orvalho de manhã
vem vindo o vendaval
temporal
ventania
depois a luz do sol
céu azul
calmaria
Sem comentários:
Enviar um comentário