quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Sobre o filme «O Vendedor» de Asghar Farhadi, 2016



















Este é um filme quase policial. Não entram policias ou ladrões. Pelo contrário. A narração é construída meticulosamente, cena a cena, sobre os indícios deixados de modo ostensivo sobre os planos: o telemóvel, as chaves da carrinha, o maço de notas. As pegadas com sangue, as cicatrizes. O espectador fica em vigília e vai sendo surpreendido pelo olhar e pela intriga. Deseja saber a verdade seguindo os passos de um casal que, por acidente, entra em conflito dentro do amor. E há muito amor também em torno deles: família, amigos, actores de «A Morte de Um Caixeiro Viajante»…
Sim, a intriga tem de fugir da polícia e da justiça. Trata-se de honra, de vergonha ou vingança colectiva. Fala-se de «humilhação pública» mas a questão vai sendo conduzida para o «orgulho masculino» em colisão com o «perdão feminino». A questão eterna da humanidade que a Bíblia ou a Ilíada andam há muitos séculos a tentar resolver.
Questão interessante são os temas que Asghar Farhadi vai lançando nas entrelinhas: o despoletar da trama com o anunciado desmoronamento do prédio de habitação onde vivem Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti)o cuidado para que a peça de Arthur Miller passe sem cortes na comissão de censura; a benevolência que salva uma sociedade relativamente livre, relativamente vigiada…
«O Vendedor» de Asghar Farhadi é, provavelmente, o melhor filme de acção exibido por aí.

jef, dezembro 2016

 «O Vendedor» (Forushande) de Asghar Farhadi. Com Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi. França / Irão, 2016, Cores, 125 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário