Este é um filme quase policial. Não entram policias ou
ladrões. Pelo contrário. A narração é construída meticulosamente, cena a cena,
sobre os indícios deixados de modo ostensivo sobre os planos: o telemóvel, as
chaves da carrinha, o maço de notas. As pegadas com sangue, as cicatrizes. O
espectador fica em vigília e vai sendo surpreendido pelo olhar e pela intriga. Deseja saber a verdade seguindo os passos de um casal que, por
acidente, entra em conflito dentro do amor. E há muito amor também em torno
deles: família, amigos, actores de «A Morte de Um Caixeiro Viajante»…
Sim, a intriga tem de fugir da polícia e da justiça. Trata-se
de honra, de vergonha ou vingança colectiva. Fala-se de «humilhação pública»
mas a questão vai sendo conduzida para o «orgulho masculino» em colisão com o
«perdão feminino». A questão eterna da humanidade que a Bíblia ou a Ilíada andam
há muitos séculos a tentar resolver.
Questão interessante são os temas que Asghar Farhadi vai
lançando nas entrelinhas: o despoletar da trama com o anunciado desmoronamento do prédio de habitação onde vivem Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti); o cuidado para que a peça de Arthur Miller passe sem
cortes na comissão de censura; a benevolência que
salva uma sociedade relativamente livre, relativamente vigiada…
«O Vendedor» de Asghar Farhadi é, provavelmente, o melhor
filme de acção exibido por aí.
jef, dezembro 2016
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