A estética como essência.
Estará a felicidade presente ameaçada
pela projecção do futuro? Pergunta-nos Yasujiro Ozu na cena onde o casal está
sentado, lado a lado, no seu provável último passeio em família. Enquanto vêem
as duas filhas passearem de barco no lago, recordam o tempo dos bombardeamentos
a Tóquio. Ele lembra a arrogância das pessoas, ela fala do escuro e do sentido
de unidade da família. É a cena-espelho através da qual o filme se revela-reflecte
no interior do espectador. Ozu aperfeiçoa com minúcia esta técnica para, filme
a filme, reavaliar a moral e a guerra, o tempo e as gerações, o amor
aprisionado dentro a tradição. Como um artesão que utiliza matéria primitiva, o
realizador vai burilando uma técnica para cumprir a estilização dos planos baixos
e frontais das personagens, dos movimentos de câmara imperceptíveis, dos
cenários paralelos. Um método que se vai fundindo com a própria essência da
forma. Ou seja, a estética como princípio, essa tangente à curva em determinado
ponto. Uma curva que tende para o infinitamente belo. A perfeição e a sua
derivada.
jef, agosto 2014
«A Flor do Equinócio» (Higanbana) de Yasujiro Ozu. Com Shin Saburi,
Kinuyo Tanaka, Ineko Arima, Keiji Sata, Teiji Takahashi, Miyuki Kuwano, Chishu
Ryu, Cheiko Naniwa, Nobuo Nakamura. Música: Kojun Saito. Japão, 1958, Cores,
115 min.
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