segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Sobre o filme «Bom Dia» de Yasujiro Ozu, 1959


















A verdade não se toma de uma vez só. 
É preciso olhá-la uma, outra vez, virá-la do avesso, afastarmo-nos, aproximarmo-nos dela. Mesmo assim, no dia seguinte, apresentará tonalidades diferentes. Por isso, Yasujiro Ozu filma sempre a mesma história, faz-se acompanhar dos seus actores de sempre, as cores e a arquitectura, os planos, os diálogos, são permanentemente rigorosos, estáticos, belos. Em «Bom Dia», Ozu refaz uma comédia de 1932 («Nasci, mas…») e apresenta dois irmãos em «greve de palavras» contra a atitude dos pais. Contudo, a verdade filmada volta a ser esse sedimento que resiste, nostálgico, ao que é novo e insiste em renascer. O silêncio dos rapazes é, ao mesmo tempo, simples e muito complexo. Como o é toda a linguagem no seio da sociedade. A invasão da tecnologia hertziana do novíssimo aparelho televisivo contra a necessidade repetida de um «Bom Dia!» e de uma conversa vácua sobre o estado atmosférico na plataforma ferroviária. Toda a força ética da ternura contida na cena final do filme. Quem por ela não for tocado, que se cale para sempre!

jef, agosto 2014

«Bom Dia» (Ohayô) de Yasujiro Ozu. Com Keiji Sada, Yoshiko Kuga, Chishu Ryu, Kuniko Miyake, Haruko Sugimura, Koji Shitara, Masahiko Shimazu. Japão, 1959, Cores, 94 min.

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