A verdade não se toma de uma vez só.
É preciso olhá-la uma,
outra vez, virá-la do avesso, afastarmo-nos, aproximarmo-nos dela. Mesmo assim,
no dia seguinte, apresentará tonalidades diferentes. Por isso, Yasujiro Ozu filma
sempre a mesma história, faz-se acompanhar dos seus actores de sempre, as cores
e a arquitectura, os planos, os diálogos, são permanentemente rigorosos,
estáticos, belos. Em «Bom Dia», Ozu refaz uma comédia de 1932 («Nasci, mas…») e
apresenta dois irmãos em «greve de palavras» contra a atitude dos pais. Contudo,
a verdade filmada volta a ser esse sedimento que resiste, nostálgico, ao que é
novo e insiste em renascer. O silêncio dos rapazes é, ao mesmo tempo, simples e
muito complexo. Como o é toda a linguagem no seio da sociedade. A invasão da
tecnologia hertziana do novíssimo aparelho televisivo contra a necessidade repetida
de um «Bom Dia!» e de uma conversa vácua sobre o estado atmosférico na
plataforma ferroviária. Toda a força ética da ternura contida na cena final do filme.
Quem por ela não for tocado, que se cale para sempre!
jef, agosto 2014
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