segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Tranquilidade















Tranquilidade.
Resolve-se sobre uma mesa na qual
colocamos uma toalha branca alisada
com as mão limpas.
Ali vamos dispondo objectos vários,
uns mais coloridos do que outros,
todos com um peso definido
pelo sistema internacional de unidades de medida.
Peso definido mas diverso entre si.
Damos, depois, um passo atrás e olhamo-los.
Parecem pontos num outro sistema, o das coordenadas,
como uma matriz de valores identificáveis porque definidos também.
Se persistirmos na observação e intensificarmos a atenção,
reparamos que os objectos não estão ali segundo um acaso qualquer,
involuntário.
Pelo contrário,
notamos que eles se ligam entre si, e entre eles e o observador,
através de um acaso estético, por isso de certo modo moral.
Um acaso cuja génese se situa num só ponto dentro do nosso cérebro visual.
Tal como a linguagem, as palavras e a sintaxe geográfica que as une, divergindo a cada momento. Talvez, por isso,
devêssemos falar em casos e não em acasos.
Poderiam, assim, ser vistas sobre a toalha,
perfeitamente branca e alisada por mãos limpas,
disposições infinitas, sistemas cartesianos de cores diferentes,
matrizes identificáveis com pesos vários,
unidas aos eixos dos xx’ e dos yy’ que são o comprimento e a largura da mesa.
(a,b) (a’, b’) (a’’, b’’).
Nesse instante, poderíamos até sorrir,
esquecendo a volatilidade dos sistemas de coordenadas,
acreditando na infinidade da nossa moralidade estética.
Momentânea.

Enquanto o sorriso persistir,
enquanto essa crença se mantiver activa,
a tranquilidade habitará em nós.

jef, novembro 2016

[Antonio López / Claude Monet]

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