Ser vivo, ser animal, ser humano.
Imagine-se que as palavras sonham, melhor, que as palavras
têm pesadelos, desses que associam sujeito, verbo, complementos directo e
indirecto, num sistema lógico mas que nos conduz a uma porta fechada, até à
queda livre sem saída, ou ilógica.
Segundo o Dicionário / Catálogo do autor, “Animalescos” é o
caderno n.º 32 e situa-se no sector intitulado «Canções». Os pontos finais praticamente
não são utilizados, as maiúsculas diluem-se à extinção, a leitura surge corrida
ligando imagens e acções, consequências e sintomas. Ideias. A palavra «Cristo» em
destaque. Um código gramatical onde o espírito nasce do corpo e a máquina do
animal, na intimidade de uma série de monólogos oníricos indexados a palavras-chave
ou índices remissivos.
«raspo a madeira para perceber se este é um material sujeito
a neuroses, como os humanos, se a madeira fica louca aos poucos, se apodrecer é
isso ou apenas uma mudança fisiológica; a perda de força do material,
interessa-me isto, perceber na madeira o que é a neurose e no homem o que é
esse apodrecimento que é visível na madeira cheia de humidade e tempo;» pp. 33.
A Natureza como ponto de fuga ou estratégia de sobrevivência.
O leitor que é, ao mesmo tempo, ser vivo, ser animal e ser humano, que decida.
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