Com este filme Bergman
torna-se explícito, fundamental, categórico. Bergman a experimentar Bergman, a
transformar a compreensão da vida enfrentando o espectador numa alta comédia de
estilo, filosofia e espelhos.
Em «a Prisão», a ficha
técnica é apresentada em voz off pelo próprio Bergman já o filme vai avançado
nos pressupostos. Já sabemos que é um filme sobre um filme que está a ser
realizado em determinado estúdio, interrompido à hora do almoço pela chegada de
um velho professor de matemática que traz um argumento infalível para novo
filme: o mundo anda a ser gerido pelo demónio que, para levar a sua avante, faz
crer em certa imagem contemporânea e decadente de deus. Esta ideia é levada a
Tomas, jovem meio-alcoólico, meio-suicida, que escreve um artigo sobre uma personagem-actriz,
Birgitta. O filme começa, então, com a vida dessa actriz, cruzada por
flash-backs, por reminiscências oníricas e psicanalíticas, pelo visionamento
infantil da curta-metragem muda da Pathé («Devil’s Wanton») quando o casal
Birgitta-Tomas se escondem no sótão. Os diversos níveis da história
confrontam-se no tempo e na geografia. Agora está tudo dito, agora está tudo
baralhado. Já não sabemos quantos andares tem a casa que aparece no nosso
sonho. O espectador que resolva: «A Prisão» é uma tragédia sobre o ignóbil
assassinato de um recém-nascido ou uma história ditada pela loucura de um
professor de matemática que acha que tudo isto não passa de uma paródia que temos
de viver, num arco que une os pontos mais próximos entre o nascimento e a
morte. Estamos no plano da arte como laboratório social, como primado da
estética. Neste filme, a beleza de cada imagem e de cada ideia transmite-nos a certeza
de que o cinema é um dos fundamentos da humanidade. Estamos no ano de 1949.
jef, março de 2014
«A Prisão» (Fängelse) de
Ingmar Bergman. Com Birger Malmsten, Doris Svedlund, Eva Henning,
Hasse Ekman, Stig Olin, Irma Christensson, Anders Henrikson, Birgit Lindqvist. 1948, Suécia, P/B, 78 min.
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