terça-feira, 29 de novembro de 2016

Sobre o filme «A Prisão» de Ingmar Bergman, 1949















Com este filme Bergman torna-se explícito, fundamental, categórico. Bergman a experimentar Bergman, a transformar a compreensão da vida enfrentando o espectador numa alta comédia de estilo, filosofia e espelhos.
Em «a Prisão», a ficha técnica é apresentada em voz off pelo próprio Bergman já o filme vai avançado nos pressupostos. Já sabemos que é um filme sobre um filme que está a ser realizado em determinado estúdio, interrompido à hora do almoço pela chegada de um velho professor de matemática que traz um argumento infalível para novo filme: o mundo anda a ser gerido pelo demónio que, para levar a sua avante, faz crer em certa imagem contemporânea e decadente de deus. Esta ideia é levada a Tomas, jovem meio-alcoólico, meio-suicida, que escreve um artigo sobre uma personagem-actriz, Birgitta. O filme começa, então, com a vida dessa actriz, cruzada por flash-backs, por reminiscências oníricas e psicanalíticas, pelo visionamento infantil da curta-metragem muda da Pathé («Devil’s Wanton») quando o casal Birgitta-Tomas se escondem no sótão. Os diversos níveis da história confrontam-se no tempo e na geografia. Agora está tudo dito, agora está tudo baralhado. Já não sabemos quantos andares tem a casa que aparece no nosso sonho. O espectador que resolva: «A Prisão» é uma tragédia sobre o ignóbil assassinato de um recém-nascido ou uma história ditada pela loucura de um professor de matemática que acha que tudo isto não passa de uma paródia que temos de viver, num arco que une os pontos mais próximos entre o nascimento e a morte. Estamos no plano da arte como laboratório social, como primado da estética. Neste filme, a beleza de cada imagem e de cada ideia transmite-nos a certeza de que o cinema é um dos fundamentos da humanidade. Estamos no ano de 1949.

jef, março de 2014

«A Prisão» (Fängelse) de Ingmar Bergman. Com Birger Malmsten, Doris Svedlund, Eva Henning, Hasse Ekman, Stig Olin, Irma Christensson, Anders Henrikson, Birgit Lindqvist. 1948, Suécia, P/B, 78 min.

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