terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sobre o filme «Dois Dias, Uma Noite» de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2014


















O fio instável da resistência.
Se existe alguma função para um filme é fazer luz sobre o fio, desequilibrado e fundamental, da resistência. A vida por um fio e, mesmo assim, levá-la para a frente. O fio da ética sobre as forças cegas do trabalho que aniquila a razão que alimenta os sentimentos que lançam o prumo da existência. Satyajit Ray em «A Grande Cidade» (1968) colocava o poder do querer e do sentir sobre a tirania e o desespero, sobre toda a inconsciência. Os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne prosseguem o corolário, demonstrando que a carnificina colectiva só pode ser vencida pela tenacidade individual. Sandra (Marion Cotillard) e Manu (Fabrizio Rongione) vão, durante um fim-de-semana, desfiando de porta em porta uma litania cujo corpo está centrado no manipulador Jean-Marc (uma personagem quase em ausência de cena, com o eterno Olivier Gourmet a dar-lhe a fugaz presença final). «A Grande Cidade» (1968) e «Dois Dias, Uma Noite» (2014) levam-nos à conclusão de que a História dos sem História é feita de individual resistência. Nesse pacto de consciência reside a estética do cinema. A sua própria resistência.

jef, novembro 2014

«Dois Dias, Uma Noite» (Deux jours, une nuit) de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Com Marion Cotillard, Olivier Gourmet, Fabrizio Rongione, Pili Groyne. 2014, Bélgica / Itália / França, Cores, 95 min.

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