– Vamos lá a marchar!
Para a frente é que é o caminho, rapidamente e em força! Porte atlético, cabeça
erguida, peito para fora, barriga para dentro. Estandartes ao alto, a Nação no
espírito! Agora, chegados à fronteira, não é possível hesitar. Recuar é a
morte, a afronta, a desonra!
Costumava dizer-me ao
pequeno-almoço, frente a uma boa fatia de pão de centeio barrada de banha e
açúcar, o metal da caneca a transbordar de café negro a escaldar os dedos, o
meu tio-avô, coronel quase general de uma Índia tomada por convalescença,
bebedeiras e malária, guerras e epidemias, muito chá, sarapatel e vindalho. Um tom
vermelho no hálito matinal, o fumo de um charuto vogando entre comissões de
serviço na selva e histórias de nativas desaparecidas, porventura devoradas. Elefantes
esforçados na rechega da madeira. Templos invadidos por botânicas esfaimadas a
esconder falos amantes e donzelas por eles ansiosas. Um relance de cumplicidade
máscula e sóbria no olhar que divagava sobre a linha do horizonte invisível e desgastado
pelo suor, em contraluz. Bigodes fartos e grisalhos, calções de investida,
pingalim e botas cardadas. Um tigre a vigiar sobre o ombro, sobranceiro e
forte. Na sombra. Pronto a saltar, logo que o comando da metrópole o permitisse!
Era um tio-avô de nome
Venâncio Anselmo de Matos Salomão Noronha de Albuquerque e Sá que, diga a
verdade verdadinha, nunca cheguei a conhecer mais gordo!
Raios partam os livros!
Malditas paisagens de papel!
jef, novembro 2016
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