«Ai, que me dói o Poplíteo!»
gemeu o Luís Miguel, após um agachamento menos ponderado.
Até o melhor dos mestres, o mais forte dos líderes, pode, a
dado instante, avaliar de modo inconsequente o movimento muscular quando o pretende
levar até ao limite da competição.
Assim gritaram os persas em fuga da peloponésia Maratón.
Assim foi o grito heróico daqueles que atravessavam o
Mediterrâneo, temendo-o sem o temer, enfrentando o desgaste das fibras como se entregassem
aos deuses a última sílaba da última elegia de Píndaro.
Assim gritou a nereida Tétis ao saber do calcanhar de seu
filho, da desgraça por terras de Tróia.
Assim gritou Eneias quando daquela saiu e avistou Roma, ainda por inventar.
Assim fremiu o músculo escavado na diagonal sobre a tíbia quando,
em razão menos ponderada, Luís Miguel se agachou perante a fúria de mais um
compasso quaternário de Madonna:
« If we took a holiday / Took some time
to celebrate / Just one day out of life / It would be, it would be so nice /
Holiday Celebrate / Holiday Celebrate».
Logo tremeu o ígneo pelotão,
as cabeças baixas
as vestes em rasgos.
Logo, em coro, todos os ginastas gritaram,
atormentados por tão dramática lesão:
«Ai, que nos dói o Poplíteo!»
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