segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sobre o livro «Ronda das Mil Belas em Frol» de Mário de Carvalho, Porto Editora 2016.














Romantismo? Deixemo-nos de falácias e mal-entendidos…
«Recuso-me a associar romantismo a violinos, varandins e álcoois espirituosos, em fundo de lua. Para mim, é aquilo que me ensinaram na escola: arroubos de sentimento e atitudes, palavreado altissonante, espadeiradas, mortes prematuras, suspiros enlanguescidos, exaltações nacionalistas e ruínas fabricadas. Cumpriu, passou, vislumbra-se a acenar de lá, entre despojos da História, vai-se buscar quando for necessário. Mas não faz nenhuma falta num prélio deleitado de corpos.»

O mote está dado!
O corpo de um homem ao encontro (ou desencontro) do corpo de uma mulher. Só isso. Não é coisa para a qual devesse contar o cenário, ou o romantismo, que ficaria para mais tarde, na Poética, segundo o velho Aristóteles.
Mas, afinal, sempre haverá mais.

«Em alturas destas, emerge algures, no cérebro masculino, o repisar de certa incomodidade recôndita: a da absoluta irrelevância da sua presença. Certo que o corpo está lá, cumprindo mal ou bem, a obrigação que lhe cabe, com mais ou menos denodo, mas é um pouco como o tipo que levanta e baixa as bandeiras nas corridas. O tumulto, o que verdadeiramente treme e ruge, não parte dele.»

São 16 histórias (com algumas mais mulheres «em flor»), digamos crónicas de sexo anunciado – e um epílogo circunstanciado –, que medem o correr dos dias de um homem com família, modos e medos normais. Um homem com desejos e consciência. Um homem que pratica porque a vida não é só teoria. Porque um homem também é «fisionomia».

«O prazer que se tem está, sobretudo, no prazer que se dá.»

(Por estas e por outras, Mário de Carvalho continua a ser um dos meus mais dilectos escritores. E que fique ele sabendo o prazer tanto que me dá em ler as suas linhas. Sinceramente, espero que tanto prazer tenha sofrido em as escrever…)

jef, setembro 2016

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