quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sobre o livro de «40 Histórias» de Donald Barthelme, Antígona 2013














Autor revolta-se
contra o estatuto do leitor. Como é óbvio, o autor pretende que os leitores abusem da capacidade, por hipótese ilimitada, que têm para interpretarem a realidade através dos textos que lhes estão pela frente. Por essa razão, Donald Barthelme (1931-1989) abusa da capacidade que possui para narrar situações que colocam o tal leitor sob a explicação do próprio coração, da própria pele. Parece estar a solicitar ao leitor: «explica-me agora a tua cabeça, as tuas mãos». O leitor fica sozinho a ouvir-se

(na página 193) «, e eis que Ludwig cai através da Villa Tugendhat e mergulha na história dos artefactos humanos; uma desilusão, sem dúvida, mas recorda-nos que a frase em si é um artefacto humano, não aquele que desejámos, é claro, mas, ainda assim, uma construção humana, uma estrutura que devemos acarinhar devido à sua fraqueza, por oposição à solidez das pedras»

E se eu falar em Boris Vian («O Arranca Corações») ou Flann O´Brien («Uma Caneca de Tinta Irlandesa») não estarei a comparar mas a reduzir o mundo sem fim destas histórias para pessoas em estado de agitação semântica. Barthelme não é paternalista, nem pedagogo, nem sério, nem irónico, é um escritor que pretende muito mais da leitura da América e do Mundo. (E, caramba, que não lhe chamem «surrealista»!)

[A tradução aqui é tarefa árdua e está muito bem entregue a Paulo Faria. Caso se pretenda melhor publicidade, leia-se o artigo que Pedro Mexia publicou no Expresso, por altura da edição deste livro.]

Um ano depois, a Antígona Refractária edita do autor «60 Histórias». Ainda não li.


jef, setembro 2014

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