quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Sobre o filme «Se as Montanhas se Afastam» de Jia Zhang-ke, 2015
















Tenho dificuldade em compreender o último filme de Jia Zhang-ke sem que a minha memória não regresse ao disco de capa de plástico cor-de-laranja que os Pet Shop Boys editaram em 1993. «Very». No final trazia um dos maiores ícones na banda britânica. «Go West». Por acaso, canção roubada aos Village People, lançada em 1979, lá pelo Oeste Selvagem.
Nessa altura, por ironia, o longo videoclip dos Pet Shop Boys devolvia a iconografia criada por uma certa revolução vermelha acontecida mais a Este.

Enfim, um anacronismo que me levou a reflectir nessa particular forma de Jia Zhang-ke filmar a difícil arte do trabalho, do amor e dos imensos territórios.

Já nos magníficos «Still Life – Natureza Morta» (2006) e «24 City» (2008), a luta pelo sustento e pela família caracterizou um novo rumo «modernista» e de «dessintonia» do cinema social. Os tempos não correspondem à nossa vontade mas sim à agressiva realidade das migrações humanas.

Assim também é no belíssimo e perturbado melodrama «Se as Montanhas se Afastam». O tempo afasta-se como as placas na tectónica, perdido nos vastos continentes, dessincronizado dos afectos, levados pela necessidade do trabalho e pelos comboios. Sincronizado no desejo de «Go West». 

1999. 2014. 2025. São estes os tempos do filme.

Magnífica é a figura central, Shen Tao, o centro da «estabilidade» de um certo triângulo, interpretada por Tao Zhao.

Jia Zhang-ke, um realizador cá dos meus.

jef, setembro 2016

«Se as Montanhas se Afastam» de Jia Zhang-ke (Shan he gu ren). Com Tao Zhao, Yi Zhang, Jing Dong Liang, Sylvia Chang, Zijian Dong. China / França, 2015, Cores, 131 min.

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