Depois de ver «O Gosto do Saké» de Yasujiro Ozu, 1962.
Será um facto menos anacrónico do que despropositado, mas a
realidade é que, ao sair do cinema, recordei «O Meu Tio» (1958) e «Playtime»
(1967) de Jacques Tati. Talvez pelo rigor da arquitectura, das portas e das
mesas, das taças de saké, dos electrodomésticos, das chaminés, dos reclames
luminosos. Talvez pela banda sonora em tons de valsa, desanuviando pelo som a
espessura da sequência e a austeridade dos planos. Talvez pela silenciosa e
cândida ironia com que as personagens são caracterizadas, sempre sentadas, sempre
a beber, quase sempre sorrindo. Talvez pela ternura que envolve de modo
infalível o isolamento do protagonista. Sem dúvida pela inevitável nostalgia
que, no final do filme, invade a tela, tristeza sentida, quando Shuhei Hirayama
(Chishu Ryu), após casar a filha, verifica que o Tempo afinal não parou de
correr e deixou a vida lá para trás. A modernidade sabe sobrepor-se à
pontualidade de um relógio que está a ficar sem corda, mas não compensa a
guerra, a perda, o erro, o remorso…
Afinal, quando o filme termina e saio do cinema, verifico que
a vida não chegou a ser interrompida.
jef, setembro 2013
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