Estará a minha memória cansada das cerejeiras
em flor de Tóquio? Não acredito. A paisagem é absolutamente admirável e o Japão
cinematográfico (que eu conheço) marca fortes pontos nesse conflito interior (e
exterior) que a grande guerra deixou entre as gerações.
Sou apaixonado por Yasujiro Ozu e pela rigorosa benevolência
estética com que vai acarinhando essa ferida aberta no Japão (e no mundo).
Aprendi a gostar do traço milenar da árvore que se cobre de rosas (na verdade,
a cerejeira é uma rosácea). Admiro o dramatismo com que Ozu mostra
como a modernidade conquistada pela juventude japonesa do pós-guerra entra na difícil
reverência pela tradição. Um traço muito fino que une a suavidade da flor à
esquadria peremptória da nova cidade do Japão.
Essa estética também está presente no novo filme da
realizadora, nesse encontro de gerações truncadas. Na troca de sorrisos respeitosos
mas cada vez mais próximos entre Tokue (Kirin Kiki), Sentarô (Masatoshi Nagase)
e Wakana (Kyara Uchida). Na comunhão dessas panquecas ancestrais (dorayakis)
recheadas de compota de feijão (an). Contudo, Naomi Kawase, tal como em «A
Quietude da Água» (2014), tropeça um pouco no apuro técnico da beleza, quase
cliché, quase delicodoce, em prejuízo da linha narrativa de uma bela história. Talvez devesse voltar a ver «Primavera Tardia» (1949) e tirar umas notas sobre a contenção artística.
Prefiro as histórias contemporâneas filmadas de Takeshi Kitano e Hirokazu Kore-eda.
Contudo, uma bonita história que nos faz recordar a construção do
Hospital-Colónia Rovisco Pais em 1938, na Tocha. Por decreto de Oliveira Salazar
/ Bissaya Barreto. Ainda viverá algum ex-doente? Onde estará agora?
jef, agosto 2016
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