A perfeita máquina da humanidade e o seu desejo do futuro.
O que pretendia o músico futurista Dziga Vertov com as suas
experiências no «Laboratório do Ouvido»? O que pretendia ele com a vanguarda do
«Cinema-Olho»? Escutar e filmar a realidade sem guião, actores, preparação de
cena. Imiscuir-se dentro da verdade desvendando-lhe o senso e o seu mais íntimo desejo
de futuro. Nada mais do que a máquina, o homem, a mulher, o trabalho, o
movimento, o riso, a multidão, o lazer….
Mas como fazê-lo com uma câmara pesada, de presença
inquestionável, e uma necessidade brutal de iluminação?
Simplesmente entrar para dentro do filme assumindo o duplo protagonismo
das câmaras em contracampo (juntamente com o seu irmão Kaufmann).
Olhar sobre a verdade da câmara e do seu operador torna-se o motivo
central e quase surrealista deste modo de filmar.
A cidade e o seu mundo gigante contemplam quem os venera,
anulando-se perante a própria imagem.
Todos gostam de se ver ao espelho, tirar
auto-retratos (selfies), criar a sua própria máscara. Quase toda a urbe sorri para a câmara.
O maravilhoso fica suspenso na impressionante jóia que é a
montagem desta inqualificável peça de liberdade de acção.
Um filme que nos reconcilia com a Humanidade, com a sua,
ainda possível, harmonia. Com a sua ficção!
jef, junho 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário