terça-feira, 10 de maio de 2016

Sobre o filme «Tu e Eu» de Larisa Shepitko, 1971


















«Ninguém recorda a sua primeira mentira», refere Piotr (Leonid Dyachkov), neurocirurgião em trânsito. Da Suécia para a Sibéria passa por Moscovo. Em torno de Piotr giram saudosos Sacha (Yuri Vizbor), antigo e devoto colega de investigação, e Katya (Alla Deminova), a ex-mulher ainda apaixonada. Todos são satélites de alguma insatisfação profunda e ninguém consegue verdadeiramente tocar em ninguém. Parece um filme de ficção científica sem ficção ou ciência. Apenas sentimentos. «Enquanto sentirmos, existimos», volta a dizer Piotr na sua eterna viagem entre imagens de trabalho, multidão e transportes. Carros, comboios, barcos, aviões. Magnífica deriva!
Sempre gostei de filmes sobre exílios, fugas ou libertações.
A cena do circo é maravilhosa e a cena final, no centro da neve e da reconciliação emocional de um cão, única!
Sobre este existencialismo modernista, essa Nouvelle Vague soviética, recordei-me de que, três anos antes, nas salas de Paris, mal começara a Primavera de 1968, Jean-Luc Gogard estreava um dos mais maravilhosos filmes sobre o sentido da liberdade: «Weekend»!

jef, maio 2016
                 

Larisa Shepitko «Tu e Eu» (Ty I Ya). Com Leonid Dyachkov, Yuri Vizbor, Alla Deminova, Natalya Bondarchuk, Leonid Markov. URSS, 1971, Cores, 97 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário