O movimento tomado como alma.
Dizem certas correntes da espiritualidade que a alma está contida
no olhar (fotografias à parte, que a sonegam!). Os 87 anos deste filme assim
indicam nesse expressionismo extravagante e poético, nesse desconexo pretexto
narrativo, nesse humor a extravasar a tragédia e o drama. O desastre
ferroviário a lembrar o futuro dos filmes catástrofes com o concertina a
escorregar moribunda pelo plano fora. O operário desmobilizado (Semyon
Svashenko) a gritar: «O maquinista sou eu!» Os planos diagonais, as figuras a
desapareceram na cena, os esgares caricaturais e burgueses na Assembleia a serem
combatidos pela exigência do poder soviético. A cavalgada desenfreada sobre a
neve para poderem enterrar condignamente o herói morto em glória. A imobilidade de quem já não tem força, não resiste ou colabora. A insurreição reprimida.
Esse poema máximo do operário em greve que dá o peito às
balas e não morre. A essência da alma de um homem invencível pelas suas ideias
e pela sua acção.
E os olhares a extravasarem a alma…
A reinvenção estética e libertária de um cinema que acabara
de ser inventado!
jef, abril 2016
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