sexta-feira, 29 de abril de 2016

Sobre o filme «Arsenal» de Aleksandr Dovzhenko, 1929



















O movimento tomado como alma. 
Dizem certas correntes da espiritualidade que a alma está contida no olhar (fotografias à parte, que a sonegam!). Os 87 anos deste filme assim indicam nesse expressionismo extravagante e poético, nesse desconexo pretexto narrativo, nesse humor a extravasar a tragédia e o drama. O desastre ferroviário a lembrar o futuro dos filmes catástrofes com o concertina a escorregar moribunda pelo plano fora. O operário desmobilizado (Semyon Svashenko) a gritar: «O maquinista sou eu!» Os planos diagonais, as figuras a desapareceram na cena, os esgares caricaturais e burgueses na Assembleia a serem combatidos pela exigência do poder soviético. A cavalgada desenfreada sobre a neve para poderem enterrar condignamente o herói morto em glória. A imobilidade de quem  já não tem força, não resiste ou colabora. A insurreição reprimida.
Esse poema máximo do operário em greve que dá o peito às balas e não morre. A essência da alma de um homem invencível pelas suas ideias e pela sua acção.
E os olhares a extravasarem a alma…
A reinvenção estética e libertária de um cinema que acabara de ser inventado!

jef, abril 2016

«Arsenal» de Aleksandr Dovzhenko. Com Semyon Svashenko, Amvrosi Buchman, Georgi Khorkov, Dmitri Erdman. Ucrânia, 1929, P/B, 90 min.

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