terça-feira, 8 de março de 2016

Sobre o filme «O Filho de Saul» de László Nemes, 2015















Tudo o que brilha! Tudo o que brilha!
Tudo o que falta está para além, para lá dos dois ou três metros da exacta focagem. Tudo o que resta é a morte ou é a vida ou é essa película indistinta que as separa. Desfocado. O horror é demasiado para ser colocado directamente sob o olhar do espectador. O importante é estar perto, muito perto. O importante é a resistência. Também a acção e os movimentos de Saul Ausländer.
Auschwitz, Polónia, 1944. Os soviéticos avançam sobre Cracóvia. Os fornos já não dão vazão à massa combustível e a morte a tiro nas valas comuns é apressada e ineficaz. As cinzas atiradas às águas do rio é um método desorganizado.
Contudo, existe um corpo que tentou resistir à fúria da «Solução Final» e ao «Zyklon B». A esse corpo chamou Saul seu filho. Tudo o que falta a esse corpo é a terra. Tudo o que pode ainda brilhar é a oração.
Mas a oração pode ser vã.
As palavras nela contida e a consciência do espectador não o serão.

Sobre o assunto, Claude Lanzmann, em «Shoah» (1985) e «Sobibor» (2001), demonstrou que uma palavra focada pode honrar a vida ou a morte de 6.000.000 de imagens perdidas.

jef, março 2016

«O Filho de Saul» (Son of Saul / Saul Fia) de László Nemes, 2015. Com Géza Röhrig, Levente Molnár, Urs Rechn, Todd Charmont, Sándor Zsótér, Amitai Kedar, Uwe Lauer. Hungria / EUA, 107 min.

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