Neva na catedral.
Após a profanação do templo, os dois monges estetas angustiam:
«Não há nada mais horrível que ver nevar na catedral». E no espectador cala fundo
a evidência da liturgia do sublime, da substância arquitectónica da metafísica.
Nada mais há a dizer sobre o filme [e vem-me à memória outra obra onde a
crucificação de Cristo é igualmente colocada de modo tão avassaladoramente
espiritual que torna o acto artístico pura ideologia. Refiro-me a «O Evangelho
Segundo São Mateus» de Pier Paolo Pasolini, 1964. Dois anos separam os dois
filmes!]
Em «Andrei Rublev», logo no início, é-nos revelado: «Para
chegarmos à essência das coisas temos de encontrar a verdadeira palavra.» E
aqui notamos outras das demandas obsessivas de Tarkovsky – a busca de uma
linguagem artística tão pura que revele o cerne da verdade, sendo tal criação humana
dádiva pela sua própria criação. A verdade! Nada mais fácil de perseguir. Tão mais
difícil de tocar.
E quanto sofrimento leva a fundição de um sino perfeito?
Tamanha
abnegação e dor faz do fraco o mais forte. Do fraco será o reino da verdade porque tomou ele o amor como
fé e a terra como sangue. O que resta é dor.
[E beleza, acrescento eu!]
Repito, nada há a dizer sobre «Andrei Rublev».
jef, fevereiro 2016
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