terça-feira, 1 de março de 2016

Sobre o filme «Andrei Rublev» de Andrei Tarkovsky, 1966















Neva na catedral.
Após a profanação do templo, os dois monges estetas angustiam: «Não há nada mais horrível que ver nevar na catedral». E no espectador cala fundo a evidência da liturgia do sublime, da substância arquitectónica da metafísica. Nada mais há a dizer sobre o filme [e vem-me à memória outra obra onde a crucificação de Cristo é igualmente colocada de modo tão avassaladoramente espiritual que torna o acto artístico pura ideologia. Refiro-me a «O Evangelho Segundo São Mateus» de Pier Paolo Pasolini, 1964. Dois anos separam os dois filmes!]
Em «Andrei Rublev», logo no início, é-nos revelado: «Para chegarmos à essência das coisas temos de encontrar a verdadeira palavra.» E aqui notamos outras das demandas obsessivas de Tarkovsky – a busca de uma linguagem artística tão pura que revele o cerne da verdade, sendo tal criação humana dádiva pela sua própria criação. A verdade! Nada mais fácil de perseguir. Tão mais difícil de tocar.
E quanto sofrimento leva a fundição de um sino perfeito? 
Tamanha abnegação e dor faz do fraco o mais forte. Do fraco será o reino da verdade porque tomou ele o amor como fé e a terra como sangue. O que resta é dor.
[E beleza, acrescento eu!]
Repito, nada há a dizer sobre «Andrei Rublev».

jef, fevereiro 2016

“Andrei Rubliev” (Andrei Rublyov) de Andrei Tarkovsky, 1966. Com Anatoly Solonitsyne, Nikolay Grinko, Ivan Lapikov, Nikolai Sergueev, Irma Raouch, Iouri Nazarov, Sos Sarkissian, NikolaiBourliaev, Rolan Bykov,  Mikhail Kononov, BolotEighrlanev, S. Krylov, Iouri Nikoulin. URSS, cores / P/B, 205 min.

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