Que necessidade temos nós de fixar o tempo, contando os dias pelos dedos do firmamento ou, pelo muito contrário, fugir da terrível função que faz aproximar o esmeril do rebordo da clepsidra?
Deixemo-nos estar, por enquanto…
Com o sublinhado das tragédias ou das comédias do insólito.
Mnemónicas.
Tremores de terra.
Cavalos mortos nas inundações.
Inaugurações de pontes Salazar.
Revoluções e cravos.
Incêndios no Chiado.
Exposições à beira-Tejo.
Aviões cravados nos edifícios.
Uma cólica emocional.
Um exame difícil.
Uma tarde na praia até o Sol fugir.
Um beijo nocturno, à socapa.
A imagem do gato à janela em dia feliz.
A morte do pai.
Deixemo-nos estar, por enquanto…
Com o picotado que as seis patinhas articuladas deixam sobre
a areia. Recordações de quitina.
Ele vai apressado com o objectivo escondido, incólume, no
futuro. Talvez a fome, talvez o medo, talvez o amor.
Para trás, o vento faz alisar outras tantas impressões
digitais. Fundamental desaparecimento.
Por enquanto, deixemo-nos estar.
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