terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Sobre o filme «O Espelho» de Andrei Tarkovsky, 1974









A Mãe, mãe de todos os lutos.
Tarkovksy parece ter uma obsessão. Melhor, um olhar político e sistemático de analisar a dor, de a mostrar invariavelmente a outros, de a sublimar e, ao mesmo tempo, expor ao público de modo estético. Ou seja, de modo ético.
A mãe Rússia. A mãe Guerra. A mãe uterina. A mãe espiritual e santa. A mãe que expulsa e se eleva do plano terreno a um estatuto de sofredora, fazendo sofrer em simultâneo. A que é abandonada. A mãe que morre e, finalmente, abandona sem apelo nem agravo, deixando-o perdido no meio da terra, Terra!
Qualquer coisa de muito puro e simples. Qualquer coisa entre o frio da água e o fogo. Tão doloroso e insubstituível como o nascimento que faz a mulher perder, em definitivo, o estatuto protegido de filha para a tornar naquilo que ainda não sabe o que é mas a deixa sem Mãe.
Esse Édipo por reflexo.
Esse espelho.


jef, fevereiro 2016

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