Noite
de Halloween. Dia de Todos os Santos. Dia de Finados.
Nunca
devemos perder o sentido do nosso desassossego. Mesmo desconhecendo onde, num
dado instante, este se encontra. Por vezes, esconde-se, anda cosido com as
paredes, finge não nos afectar, até parece andar contente, distraído de nós. Ser
independente do nosso sossego. Desengane-se quem pensa que, por fim, partiu de
vez, podendo descansar e esquecer o lugar de onde veio.
Não.
Esse quem está perante um acto ilusório.
Pelo
contrário, o desassossego apenas recua para trás da árvore, faz um cocó, alivia
a sua própria dor, desfaz a pressão, para depois tomar balanço e dar, ainda com
mais força, um pulo assustador, aparecendo repentinamente à nossa frente.
Faz
«Buuuu!».
Nós
damos um salto, o coração na boca. No silêncio, assustamo-nos, gritamos sem
fazer barulho e acabamos a olhar para o chão, a palma das mãos suadas, o rosto
corado, como a criança perante o vidro partido.
Arrependimento,
remorso, culpa... O desassossego alimenta-se de várias espécies de abóboras-meninas.
A
morte momentânea arrebata-nos para os carris do absurdo e nós, por um momento,
morremos com ela, desconhecendo de onde ela saiu, para onde nos levou. A morte
perene fica por perto.
Depois
as células recolhem à sua valva, esquecem, como esquecem todas as células de
qualquer ser vivo que tem o dever da sobrevivência. Acalmam-se e voltam ao acto
ilusório.
O
desassossego foi só ali atrás da árvore fazer um xixi.
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