Estranho este modo de contar histórias.
Contar histórias para adormecer os outros, para não
adormecermos, para que a morte não nos encontre. Xerazade e Miguel Gomes sabem
bem como levar-nos até a essa estranheza, até à fronteira daquilo a que Ingmar
Bergman chamou, em 1968, «A Hora do Lobo». A hora de vigília, a hora da
incerteza brutal.
Aqui, a ficção é a
realidade, o País dos Desempregados e do Desespero, a ficção. [Os estaleiros de
Viana, a vespa asiática, a fuga do realizador, os Homens de Pau Feito, o galo
sabedor, a paixão e o incêndio florestal, os desempregados heróis, a baleia
explosiva, o electrocardiograma, a praia, o banho iniciático do 1º de Janeiro...]
A Esperança.
Porém, quem nos leva a escutar as histórias não é a vida nem é a
morte, como alguém escreveu. É a Ternura, essa poética maior, tão difícil de
transcender, por vezes tão difícil de reter no coração. O filme nela está ensopado.
Estranho modo este de ouvir histórias para acordar e levar
a Ternura a ultrapassar os limites da Hora do Lobo.
Xerazade e Miguel Gomes sabem bem como adiar a morte.
jef, setembro 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário