Intercepção
Pousar a mão na rocha
e o braço afundar na água.
Tentar reter breve o sorriso
e não encontrar o corpo no olhar.
Investigar a carne até a penetrar
e não tocar o osso
apenas cingir a concha.
Sondar a concha e do amor
receber o brilho vítreo da lava endurecida.
Procurar a génese do movimento
e ficar preso no instante que a lava arrefeceu.
Muito desejar a noite
mas ser atingido pelo róseo do alvor.
Muito desejar a manhã
mas arrancarmos as frases tardias.
Tanto querer segurar o gomo sanguíneo
mas assistir à folha imaculada sobre a mesa.
Rasurar o vocábulo na folha imaculada
o contorno brilhante do pequeno escaravelho
e verificar que é a névoa nas lentes desactualizadas.
Dever parar
por dever de continuar.
Por último,
ter a certeza que o mar,
esse mar distante e revolto
barulho dos búzios vazios
mágoa dos polvos virados do avesso
cachalotes perdidos dos mais belos marinheiros
violinos rogando pelos náufragos do gelo azul
zangas de Cila e Caríbdis
gritos de Polifemo por Ninguém
sim,
ter a certeza que esse mar,
cansado do sonho silente das sereias,
será tão próximo e tão manso quanto o desejarmos,
nossa concha, nosso osso, nosso gomo.
A fantasia por descanso final.
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