A
árvore estende os ramos,
alastra-os,
afasta a atmosfera.
Melhor,
ocupa a atmosfera.
Como
aquela película de cinema que,
fotograma
a fotograma,
agora sem ruído nem fumo,
lisa,
pura, digital,
sem
cheiro, temível,
invade
durante duas horas
o
volume total do nosso ser.
Andrei
Tarkovsky, Pedro Costa, Wim Wenders.
Como
a tinta imposta a certas páginas
de
certos livros,
quando
se apodera de um espaço
nunca
antes imaginado dentro da nossa cabeça.
Agora
sem pó nem cheiro a cola,
em
visualizações electrónicas,
finamente
iluminadas,
sem
sombra de página,
ou,
ao menos, um ácaro invisível
(que
devorou um pouco de
Fiódor
Dostoiévski, Mário de Carvalho, Boris Vian)
a passear carinhosamente entre os pêlos
nascidos nas nossas falangetas.
Sim,
a árvore estende os braços,
espreguiça-se
agora,
indiferente
ao sentido ou à direcção,
integralmente
dominada
pela
eléctrica vontade
de
uma trovoada virtual que,
no
fundo da atmosfera, esconde as radículas
luminosas, simbióticas,
a incendiar a própria copa,
milagrosa.
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