Teatro da Cornucópia
«Lisboa famosa (portuguesa e milagrosa), cenas lisboetas de autos antigos» (Gil
Vicente, Baltasar Dias, Afonso Álvares, alguns anónimos)
Lisboa, a fome e a fama
que vêm de longe!
Por vezes, podem as
palavras vindas de tempos antanhos ficar a soar diferente aos ouvidos de hoje,
talvez incompreensíveis. Mas são palavras fundamentais embora diversas,
transformando-se, chegando compreensíveis até nós pela expressão dos corpos dos
actores, talvez pela sua dança… Como não entender a conversa entre Lisboa e a
Fome, entre a Verdade e a Honra, entre o Centeio e o Milho estrangeiro? Como
não sorrir com o ciúme de Santo António pela fama de São Vicente?
Esta é uma peça para
quem gosta de Lisboa e das cores e da cenografia deslumbrante de Cristina Reis
e da recriação subtil do Tejo e do Cais das Duas Colunas. Para quem não esquece
o convívio insubstituível com Luis Miguel Cintra, Luís Lima Barreto e José
Manuel Mendes. Para quem não esquece o riso de Sofia Marques e a suspensão no
olhar de Rita Durão. Para quem apreciar a nova voz e a nova expressão dramática
de Ana Amaral, Guilherme Gomes, Isac Graça, Rita Cabaço e Sílvio Vieira. Três
gerações de actores para acarinhar quem, como eu, aprendeu a ver teatro com a
Cornucópia, desde os idos de 1974 com «a Ilha dos Escravos» de Marivaux, lá no Capitólio, quando este ostentava ainda umas instáveis escadas rolantes.
É um crime teatral não
ir ver e rir e pensar com esta peça! Como gostaria eu de ser dramático sem
beliscar o profissionalismo destes que mentem com a verdade, deste superior Luis
Miguel Cintra que diz a verdade mefistofélica, ajudado pelas deixas escritas no
papel que traz na mão um pouco trémula… Ele mente, sim, dizendo a verdade mais pura!
Nós os espectadores e esta cidade de fama e fome é que talvez estejamos
doentes!
Viva o Teatro da
Cornucópia! Viva Luis Miguel Cintra! Viva Lisboa!
jef, março 2015
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