Em
Pau Miró a realidade é diversa e um facto pode ser interpretado de modo
diferente, conforme o olhar, conforme o preconceito e o trauma que vêm do
passado, ou o desejo que se projecta no futuro.
David
entra à noite na lavandaria por um portão que mal se fecha. Pretende lavar uma
camisa suja de sangue. O pai, a mãe e a filha, que fazem a gestão da lavandaria, vão
cativando-o. David vai ficando, sem explicar a razão da sua urgência. Pela
manhã tomam o pequeno-almoço com café, torradas e doce ácido de ameixa quando
surge, como visita, um amigo de infância da família, agora inspector da polícia
(que se proíbe de beber cerveja). Uma faca ensanguentada e cocaína aparecem, algures. O interrogatório recrudesce e atinge o auge na violência masculina
entre traumas, desejos e verdades. Nenhuma delas parece cabal, todas poderão
ser plausíveis. Como se poderão eles compreender se todos estão sós? As
mulheres permanecem à parte aguardando alguém que, em criança, se escapuliu por
aquele mesmo portão de fechadura avariada e nunca mais voltou.
Em
Pau Miró, a vida está em suspenso aguardando pela verdade que pode até nem
regressar.
jef,
abril 2024
«Leões»
Texto: Pau Miró. Tradução: Joana Frasão. Encenação: António Simão. Com Andreia
Bento (a mãe), Iris Runa (Sara, a filha), Pedro Carraca (o pai), Pedro Caeiro (o
inspector) e Vicente Wallenstein (David). Cenografia e Figurios: Rita Lopes
Alves. Desenho de Luz: Pedro Domingos. Desenho de Som: André Pires. Produção:
Artistas Unidos / Teatro da Politécnica. 110 minutos.
Teatro
da Politécnica de 11 de Abril a 4 de Maio de 2024
3ª
a 5ª às 19h00 | 6ª às 21h00 | Sáb às 16h00 e às 21h00